sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Capítulo 23: "É mais um sinal do destino"


(Sofia)
Sofia acordou naquele dia de Natal bem disposta e feliz, iria reunir a família toda e festejarem aquele dia tão especial, e parecia uma criança com as prendas, apalpava e remexia, separava as suas prendas de todas as outras e e abanava-as na tentativa de descobrir o que era, e os seus olhos brilhavam sempre que as abria. Naquele dia de Natal não era exceção, acordou com o toque da mãe no seu ombro e o sorriso diário que a mãe lhe disponibilizara sempre que a acordara, mas desta vez também o pai ali estava, e deu-lhe um beijo na testa. Ao seu lado na cama estava o irmão, sentou-se e sorriu:

-Bom dia família, não poderia ter melhor acordar.
-Precisamos de falar, filha.

Sofia engoliu em seco, sabia que não poderia ser boa notícia mas que espécie de má notícia seria assim tão má para lhe dar no dia de Natal?! Despiu o pijama e vestiu a roupa que havia decidido usar para aquela ocasião e sentou-se junto à família, olhou para o irmão mas ele não descodificava, nem ajudava, parecia estar tão surpreso quanto ela.

-Que se passou? Estão a assustar-me.
-Não sei como te dizer isto... - Disse a mãe.
-Não se ponham com rodeios por favor, sabem que eu detesto isso.
-Decidimos dar-te esta notícia hoje porque sabemos que é um dia muito importante para ti e talvez te ajudasse a ultrapassar melhor a dor e que possas compreender o nosso lado, que também não é fácil.
-Deixem-se de rodeios, o que se passa?!
-Tu és adotada, Sofia. - Sofia sorriu. Era uma partida, era impossível ser verdade.
-Agora a sério por favor.
-Estamos a falar a sério, filha. - Disse a mãe pousando a mão sobre a sua.

Sofia gelou com o que ouvira, como assim não era filha biológica das pessoas que toda uma vida chamou pais? Como não era irmã de sangue de Diogo? Como lhe haviam escondido este segredo durante quase dezoito anos? Sentou-se no chão sem energias e a digerir o que tinha ouvido.

-Sei que neste momento te deve estar a passar por um turbilhão de sentimentos e perguntas pela cabeça, mas ouve-nos por favor.

Sofia não queria ouvir mais nada, nem mais uma única palavra, nunca mais queria ver nenhum deles ao pé de si, nem queria estar ali. Pegou no telemóvel e saiu a correr, sem rumo ou destino, apenas para longe, mesmo quando as lágrimas inundavam-lhe os olhos e não a deixavam ver o que a rodeava. Andou durante algum tempo até sentir a areia tocar-lhe nos pés, e o vento que corria do mar bater-lhe na cara, sentia o cheiro a maresia e fazia-a sentir melhor mas em simultâneo pior, sentou-se à beira de água com as pernas erguidas e abraçou-as e chorou durante longos minutos... O telemóvel fartava-se de fazer barulho, de tocar e tocar, mas ela nem olhava, nem queria saber, apenas queria chorar e relembrava-se sempre das palavras do seu pai:

-Tu és adotada, filha.” - Mas como é que ele se atrevia a chamar-lhe filha? Mentiram-lhe toda a vida! Tinham-na feito acreditar em tudo o que lhe diziam, talvez nunca a tivessem sequer amado. Só queria esquecer tudo e recuperar a boa fase que vivia anteriormente, queria poder arrancar do seu ombro a tatuagem que havia feito para o seu pai, queria poder dizer a todos que os odiava e não os queria mais ver à frente. E Diogo? Como é que Diogo lhe havia escondido isto? Eles eram irmãos! Talvez não o fossem na verdade, mas ele não poderia ter escondido nada assim...
O mar falava consigo, as ondas molhavam-lhe o corpo e vinham baixinhas e fracas, e por isso diziam apenas um nome, mesmo sem dizer, refletiam uma personalidade e ela sabia bem quem era, a única pessoa que conseguia dar luz ao seu dia, mesmo num dia de trovoada. Pegou no telemóvel, ignorando todas e quaisquer chamadas, limpou as lágrimas e telefonou. Não precisou de ouvir mais de dois toques para o seu dia ganhar luz.

-Sofia. - Não conseguiu segurar mais o desespero e a mágoa e rompeu em lágrimas. - Onde estás? Que se passou?
-Pedro... Pedro... Eu preciso de ti.
-Onde estás?
-Em Espinho... Na nossa praia.
-Vou-me já fazer ao caminho.
-Desculpa. Desculpa de coração. - Sabia que era dia de Natal e iria estragar um dos poucos dias que Pedro conseguia estar com a família e por isso pedia apenas desculpa.
-Sofia, tu precisas de mim é apenas isso que preciso de ouvir.
Ouviu o motor do carro ligar.
-Amo-te.
-Também te amo.

Por muito que sentisse gostar de Filipe, e de se sentir-se feliz com ele, a verdadeira felicidade e por quem dava a vida era apenas e só, Pedro. Era ele quem ela amava e amaria sempre.
Passado pouco mais de duas horas, Pedro chegou a Espinho, o que era pouco para quem teve de percorrer o país de sul a norte, desde Évora até Espinho. Estacionou o carro e foi a correr até à praia onde estava a sua amada, e pegou-a ao colo e levou-a até ao carro, onde abriu a porta do banco traseiro e sentou-se e pousou Sofia no seu colo. Toda ela tremia de frio, deveria estar ali há horas e estava cansada, terrivelmente cansada, Pedro conseguia percebê-lo, deveria ter chorado todo aquele tempo desde que lhe telefonara e quem saberia quanto tempo tinha chorado sozinha antes de lhe ligar, provavelmente também ainda não teria nada no estômago e isso ainda a enfraqueceria mais. Ligou o aquecimento do carro e colocou-lhe uma manta no redor do seu corpo e fê-la colar-se ao seu corpo, a sua cabeça no peito e sussurrou-lhe:

-Sofia?A rapariga não tinha forças para lhe responder apenas teve força para pousar a mão sobre o peito dele e sentir pela primeira vez amor naquele dia.- Precisas de comer alguma coisa. Sofia não queria, sentia-se indisposta e apenas queria continuar sentada no colo de Pedro e assim permanecer até se sentir melhor, mas também sabia que ele não iria desistir, por isso abanou a cabeça devagarinho. Ele pegou num pequeno pacote de bolachas e tirou a primeira, e partindo pedaço a pedaço deu-lhe à boca. -Eu sei que te custa, mas tens mesmo de acabar estas bolachas. -Sofia terminou as bolachas e aconchegou-se ainda mais nos braços de Pedro, era exatamente daquilo que precisava, e foi sem pensar em nada mais e apenas a desfrutar daquele momento que adormeceu... Mas não tardou para acordar aos berros e a chorar. - Meu amor, eu estou aqui. - Agarrou-a e deu-lhe um beijo na testa e outro na ponta do nariz que a fez despertar e sorrir.

-Obrigada. - Pedro deu-lhe um beijo na testa e ambos sorriram. - Por nunca teres desistido de mim e por me amares.
-Nunca vou desistir de ti, nem deixar de te amar, sabes? - Deu-lhe um beijo na ponta do nariz. . Já me podes contar o que se passou?
-Eu sou adotada... Os meus pais não são realmente meus pais.

Assim que o disse rompeu-se em lágrimas e encostou-se ao peito de Pedro e agarrou a camisola enquanto chorava, ele passou o dedo indicador pela sua face e limpou-lhe as 
lágrimas que corriam na sua bochecha esquerda.

-Eu sei que custa, mas tens de ser mais forte que tudo isto.
-Eles mentiram-me toda uma vida, o meu irmão mentiu-me.

Pedro abraçou-a mais uma vez e deu-lhe mais um beijo na ponta do nariz, que sempre a fazia sorrir e sentiu-se um pouco melhor, mas mesmo assim a dor reinava o seu coração.

-Leva-me daqui por favor.
-Os teus pais... - Rapidamente entendeu que tinha errado. - Os Rochinha estão preocupados contigo.
-Não quero saber, de verdade.
-Vou mandar uma mensagem ao Diogo a avisar que estás bem.
-Não quero saber. - Disse aproximando-se e aproximando-se ainda mais do peito de Pedro. - Só quero sair daqui Pedro.

O rapaz pegou no telemóvel e mandou a mensagem a Diogo.

-Vamos para minha casa, em Lisboa?
-Sim, senão te importares.
Pedro pegou em Sofia ao colo e colocou-a no banco ao lado do condutor, depois colocou-se ao lado dela e seguiu caminho em direção a Lisboa.
-Ou preferes ir para tua casa?
-Quero ir para a tua, a minha trás-me demasiadas recordações.
-Assim será. - Sofia encostou a sua cabeça na perna de Pedro e endireitou a manta que cobria o seu corpo. - Não te faz impressão estar aqui?
-Não, deixa-te estar. Vou ligar o aquecimento para ficares mais quente.
-Obrigada, meu amor. - Pousou a mão sobre a mão sobre a perna dele e não demorou até adormecer.
Quando chegaram a Lisboa, e depois de estacionar o carro, Pedro passou a mão pela face de Sofia e despertou-a. Ela abriu os olhos e olhou diretamente para ele.

-Não te queria acordar, desculpa.
-Não tem mal, também temos de ir andado não é verdade?
-Ia pegar-te ao colo e ia levar-te. Já não seria a primeira vez.
-Mas os tempos eram outros... - Olharam um para o outro e não precisaram de dizer mais nada, ambos se lembraram dos tempos em que namoravam.
-Ia relembra-los sozinho.

Aproximaram-se e ele abriu a porta e puderam sentir o frio que assolava a casa inabitada naquela noite, ela gemeu de frio e ele percebeu.

-Sempre foste muito friorenta.
-Tornei-me ainda mais... Depois da gravidez.
-Ainda tenho umas roupas tuas de Inverno guardadas, vou lá buscá-las para usares, e vou preparar alguma coisa para comeres e vou tratar de aquecer o gelo desta casa. - Pedro ia virar costas mas ela agarrou-o no braço.
-Obrigada por abdicares de um dia com a tua família... Por mim.
-Sofia, tu precisavas de mim, teria abdicado de tudo para te deixar bem. - Ela corou, ele fazia-a sempre feliz com simples palavras mas tão boas. - Fico contente por ainda te fazer corar, sabes? Deixa-me estupidamente feliz.
-Tu abdicaste do dia de Natal com a tua família... Por minha causa. É algo que nunca vou esquecer.
-Sofia, tu não estavas bem e não iria aproveitar o dia só de pensar que não estarias bem.
-E a tua família? Como reagiu?
-Os meus pais adoram-te, sempre te adoram... Mesmo apesar de tudo. Compreenderam perfeitamente e disseram-me para ir.
-Agradece-lhes e manda um beijinho meu.
-Eles agradecem e devolvem-te, de certeza.
-Obrigada.
-Amanhã preciso de falar contigo.
-Não tenho forças Pedro... De verdade que não tenho. Eu estou em pé porque estás ao meu lado sinto-me demasiado fraca para aguentar sozinha.
-Amanhã Sofia. Amanhã conversamos mas é algo que não posso adiar muito tempo. - Pegou nela ao colo e levou-a até ao sofá da sala de estar. - Vou acender a lareira e pôr um aquecedor no meu quarto onde vais dormir e pôr uma bolsinha para te aquecer os pés e umas mantas a mais na cama.
-Podes dormir comigo por favor, Pedro? - Ele hesitou e Sofia percebeu. - Não se vai passar nada... Eu é que não consigo dormir sozinha. - Dito isto rompeu-se em lágrimas. Ele aproximou-se dela e limpou-lhe as lágrimas e deu-lhe um beijo na testa.
-Eu durmo. - Sofia sorriu agradecida. - Mas vais ter de comer umas torradas e um leite quente, combinado?
-Sim. - Disse aconchegando-se nas mantas que a embrulhavam, junto à lareira já preparada por Pedro.
-Ficas bem aqui? Eu não demoro.
-Sim. Não te preocupes.

Ele deu-lhe mais um beijo na testa onde preparou algo para ele e Sofia comerem. De seguida foi preparar a cama para receber Sofia, colocando mais mantas e mais rigorosas,tirou as roupas dela do armário onde guardava todas as memórias dela e levou-a até aos pés do sofá.

-Estas roupas eram tuas... Não sei se ainda te servem.
-Com certeza que ficam bem.

Ele fez-lhe uma pequena festa sobre a face e foi preparar algo para Sofia e ele comerem... Afinal ele pouco ou nada tinha comido e ela... Ela estava demasiado frágil. Depois de ter as torradas e os leites quentes, levou-os até à sala e deu-lhe vagarosamente à boca, aguardando que ela terminasse o que tinha na boca para lhe dar mais e fê-la beber o leite devagarinho, como se fazia às crianças para não se engasgar. Sofia... Ela tentava comer e beber por si mesma, mas assim que levantava os braços, eles caiam. E Pedro... Ele já sabia dos problemas de saúde que ela tinha tido. Já sabia da bulimia, das tentativas de suicídio, ele sabia e por isso não poderia facilitar. Quando terminou de lhe dar a comida suficiente, comeu também ele e depois, sem nada dizer, pegou em Sofia ao colo e levou-a até à cama onde a pousou e tapou-a com as mantas da cama.

-Não te importas? - Disse apontando para a roupa. Ela abanou com a cabeça negativamente e ele despiu a roupa que tinha no corpo e vestiu o pijama, sempre os olhos atentos de Sofia... Que não podia negar que aquele corpo havia desperto em si toda a atenção e até havia captado instintos que o corpo de Filipe já lhe havia adormecido, mas tinha de negá-los, tinha de recusá-los, dissera a Pedro que nada se iria passar e iria cumprir. Ele deitou-se na cama junto a ela, encostou-se e ela começou a chorar... A dor corroía, e iria sempre corroer. Vivera uma mentira por quase dezoito anos. Adormeceu cansada de chorar, e Pedro... Pedro sabia que não iria dormir. Há anos que não dormia assim junto a Sofia, queria admirá-la, queira beijá-la, queria tocar-lhe, queria desfrutar de todos aqueles momentos ao máximo, e decidiu fazer-lhe uma confidência:

-Sofia. - Respirou fundo. - Durante uns tempos odiei-te. Por me teres abandonado sem dizeres nada, do dia para a noite, por tanto te amar e por não conseguir esquecer-te. Que pensei em desistir da minha vida, foram tempos em que sofri. Sofri muito e pensei que não iria conseguir superar, mas tive de levantar a cabeça.
Arranjei forças no teu sorriso e em ti para continuar, porque te amo e quis acreditar que iria voltar a ver-te, e porque te amo mais que a mim, que arranjei forças em ti. E a Matilde apareceu na minha vida... E acabou por acontecer. Ela apaixonou-se por mim e eu deixei-me levar. Sei que não é desculpa mas eu estava fraco e acabei por também sentir algo por ela. Eu jurei, jurei a mim mesmo e ao mundo que sentia verdadeiramente algo, mas hoje... Hoje não sei. Mas não a quero magoar, ela não merece... Não depois de tudo o que fez por mim, por nós. Porque agora estou certo que vamos estar juntos até ao final das nossas vidas. Ela deu-me um filho. Que não foi pensado, nem desejado, ele simplesmente aconteceu... E eu vou ser o pai dele. Nunca o irei negar e ele será amado como foi, e é amado o Júnior, o nosso filho. - Limpou as lágrimas. - E acredita que quando soube dele jurei nunca te perdoar por tudo. Mas hoje... Hoje eu já sei de tudo. Sei que não me abandonaste, mas que foste obrigada a fazê-lo. Que o teu pai te obrigou e por muito que me amasses, amas-o também e não querias desiludi-lo. Que por me teres deixado que sofreste tanto ou mais que eu, que vomitavas tudo o que comias, e que por isso te tornaste bolémica, que te tentaste matar... Eu não viveria sem ti, sabias? - Deu-lhe um beijo na testa. - Dava a minha vida só para garantir que estavas bem e feliz. E agora estás feliz e por muito que te tenha garantido que era o que mais me importa, mas também me causa um misto de emoções contraditórias. Quero e gosto que sejas feliz, mais que ninguém, mereces, mas também me magoa muito o facto de seres feliz... Sem mim. Mas não posso ser tão egoísta. - Limpou as lágrimas. - Sofia, eu descobri o teu blogue e mais que nunca conheço-te e amo-te mais do que nunca. - Dito isto deu-lhe um beijo na testa e adormeceu agarrado à dona do seu coração.
-Não. Por favor não... Diz-me que é mentira, por favor. - Sofia chorou e gritou ao pedir para ser mentira. Pedro despertou segundos antes e abraçou-a.
-Meu amor, já passou. Eu garanto-te que já passou. Deu-lhe um beijo na testa. Sofia limpou as lágrimas que lhe corriam pelo rosto e pousou a cabeça no peito dele. -Sonhei que era adotada, diz-me, por favor, que era só um pesadelo. - Pedro olhou para ela e não teve coragem de lhe dizer a verdade, ela percebeu e encostou-se ao peito dele a chorar de uma forma descontrolava e ele abraçou-a. Sabia bem que quando chorava não deveria dizer nada, deveria sim dar-lhe os braços para abraçá-la e o peito para ela encostar e chorar, deveria deixá-la ficar assim até ela ganhar força para falar, ou até adormecer, o que acontecia na maioria das vezes.
-Porque me amas, Pedro? Porque continuas a amar-me e a estar ao meu lado... Depois de tudo? Porquê, Pedro?
-Prometi que iria sempre apoiar-te e iria amar-te sempre e para sempre e não vou quebrar essa promessa.
Sofia sorriu, era incrível a forma como ele a fazia sentir depois de tanto e tudo o que se tinha passado, quando vivera em Espinho pensara que ele já a tinha esquecido, que o magoara demasiado para ainda a amar, mas quando regressara e com o passar do tempo havia percebido que ele ainda a amava mais e estava ainda mais certa que ele sempre a amaria.

-Estavas a pensar em algo...
-Não te conseguia enganar, nem mesmo se tentasse.
-E posso saber no que estavas a pensar?
-No que fiz para te merecer.
Pedro corou e sorriu. Aquela havia sido a resposta mais genuína e intensa que ela lhe poderia ter dado, não havia pensado sobre ela, apenas lhe tinha dito, sem medos ou hesitações.
-Sofia... Nós não pudemos. Simplesmente não pudemos. Tu tens o Filipe, eu a Matilde, tu estás frágil e eu não posso aproveitar-me disso.
-Estou demasiado fraca, Pedro, preciso de ti mais do que nunca.
-Sofia, dorme, por favor. Não tornes as coisas mais difíceis do que elas já são.
-Tu sempre estarás aqui para mim, eu sei, mas promete-me que tudo isto é apenas um mau momento e amanhã quando acordar estarás aqui.
-Não te vou deixar sozinha Sofia, prometo. - Deu-lhe um beijo na testa. - Mas agora vamos dormir.

Fechou os olhos e deitou-se de barriga para cima, Sofia deu-lhe um beijo na testa e encostou a cabeça ao peito dele e fechou os olhos, sabia que Pedro não iria dormir e que estava apenas a tentar evitar o que poderia acontecer e ela também sabia que não podia ceder, que era apenas a fraqueza a falar, mas precisava dele... E ele pensava com a cabeça e ela precisava de todo o seu coração, mas não o podia condenar por mais, afinal já ele estava ali e dera-lhe tanto naquele dia sem o dever e foi com este pensamento que adormeceu.

Pedro apenas dormiu uma hora, passara horas a olhar para ela, a admirá-la, a senti-la bem junto de si, a admirar a perfeição que ela era e a admiração e o amor que nutria por ela, queria estar assim junto a ela para sempre mas não podiam... Queria acreditar que estavam destinados a ficar juntos, mas a vida parecia querer dificultar tudo, parecia querer juntá-los mas sempre com impedimentos e acabar por separá-los. Pedro iria ser pai, Sofia vivia com Filipe. 

Olhou para os lábios dela, os lábios que já tinha beijado milhares, ou milhões de vezes, os lábios irresistíveis que ela possuía e queria beijá-los mais uma vez, mas sabia que não o podia fazer, seria aproveitar-se dela enquanto dormia. Sofia arrepiou-se e Pedro pode sentir todo o corpo dela embater contra o seu e cativara-lhe todos os movimentos, sensações, todo o corpo "despertou" e ele embora já o conhecesse, queria sempre reconhecê-lo, e voltar a conhecê-lo. Queria mostrar-lhe fisicamente o que sentia por ela, mas não o iria fazer, iria esperar. Iriam fazer tudo bem, desta vez iriam fazer tudo para não magoar ninguém mas ele primeiro tinha que lhe dizer que já sabia de toda a verdade... Adormeceu já passava das 6h a muito custo mas vencido pelo cansaço. Acordou uma hora depois com um toque no ombro.

-Bom dia meu bem.
-Bom dia minha vida.

Sorriram.

-Fiz-te o pequeno-almoço, mas se bem te conheço mal dormiste.
-Acertaste. Mal consegui pregar olho preocupado contigo, só adormeci às 6h, vencido pelo cansaço.
-Então dorme, pouco faltam para as 8h.
-Sempre foste pessoa de acordar cedo, existem coisas que não mudam nunca, não é verdade?
-Pedro, talvez devas mesmo dormir, ontem foi um dia muito cansativo para os dois.
-Sofia, achas que irei pregar olho sabendo que estás acordada e podes precisar de mim?
-Então vamos os dois tentar voltar a dormir, pode ser?
-E o pequeno-almoço?
-Quando acordarmos, comemos.

Sofia pousou o tabuleiro na mesa de cabeceira e pousou a cabeça no peito dele e a mão ao lado. Esperou durante uns minutos e ainda outros.

-Não consegues dormir mais, pois não?
-Só queria que descansasses mais um tempo.
-Sabes bem que basta-me 10 minutos a dormir e acordo como novo.
-Mas devias descansar mais... Aproveitar enquanto não nasce o teu filho.
-Sofia, não vamos falar sobre isso.

Ela assentiu com a cabeça, iria acatar o pedido dele.

-Como estás? - Perguntou Pedro impedindo-a de pensar em algo mais.
-Acho que nunca vou recuperar, sabes?
-Claro que vais, és a pessoa mais forte que conheço.
-Obrigada. - Olhou-o nos olhos onde o azul dos seus olhos cor de mar se confundia com o castanho escuro dos olhos de Pedro. - Ontem nem rezei ao meu filho, deve estar a chamar-me mãe foleira.
-Tu rezas ao Júnior?
-Todos os dias, e falo muito com ele, ainda mais desde...
-Desde?
-Que eu e o Filipe moramos juntos.
-Sabes eu também falo com o Júnior todas as noites, além de meu filho, é meu amigo.
-Pelos vistos é mais um sinal do destino.
-Ou da vida. Somos uns bons pais para o nosso filho... Para o teu filho mais velho.
-Precisamos de falar sobre uma coisa. - Sofia sabia que ele só iria abordar o tema da adoção se ela quisesse, não o iria "puxar" e por isso só poderia ser outro tema e fazia receá-lo.

-Deixa-me falar primeiro, por favor. - Pedro calou-se. - Estou grávida.

Como irá Pedro reagir à notícia?
De quanto tempo estará ela? Será que ele vai ter coragem de lhe contar que já sabe de toda a verdade depois disto?