terça-feira, 12 de julho de 2016

Capítulo 26:“Se for um menino será Gabriel, se for menina será Diana.”

(Sofia)
Diogo estacionou o carro junto à casa que era da sua irmã e do seu “cunhado”, iria deixá-la ali para Sofia deixar a carta e arrumar os seus pertences e simplesmente ir-se embora... Não era fácil e nem justo, mas era a única forma de fazer o que devia ser feito. Filipe não podia ser simplesmente o pai de um filho que não era o dele, não poderia ter um coração tão grande ao ponto de apoiar a namorada naquele momento, e Sofia não poderia simplesmente fazer isso... A nenhum deles. Mas antes que a irmã pudesse sair do carro, tinha de lhe dizer umas últimas palavras para lhe dar força, coragem e ânimo para o que ia fazer. Não era fácil e se pudesse até o faria por ela, para evitar dor e sofrimento, ainda para mais na fase delicada que ela vivia com a gravidez.

-Quero que saibas que eu tenho muito orgulho em ti, independentemente de tudo.
-Mesmo que vá magoar a única pessoa que não merece sofrer no meio desta história toda?
-Se o inferno gelasse, eu continuaria a sentir o mesmo orgulho em ti.
-E se … ?
-Se, nada. Eu continuarei a ter o mesmo orgulho em ti, sempre.
-E se eu não tiver força?
-Tu és a pessoa mais forte que conheço na minha vida, nunca me fartarei de dizer-te isto, és a pessoa que eu mais admiro e de quem eu mais gosto acima de qualquer coisa ou pessoa, e nada nem ninguém vai mudar isso! Sofia, tu és a única pessoa por quem eu abdicava de tudo apenas para te ver feliz! E sabes? Sem esforço não existe recompensa, e tu vais realizar o teu sonho! Vais ter o teu filho nos braços e o homem que amas ao teu lado!

-Amo-te mano! - Limpou as lágrimas que lhe corriam pela cara. - Estas hormonas dão-me para chorar!
-Tens mais 7 meses e meio de hormonas trocadas pela frente, mas mesmo que não tivesses tinhas chorado!
-É verdade. - Limpou as lágrimas mais uma vez, mas desta vez as últimas. - Se o Filipe não estiver em casa eu desço para me ajudares a arrumar as coisas, pode ser?
-Combinado, princesa! - Diogo deu-lhe mais um beijo na testa e a rapariga seguiu caminho até à sua casa, o segundo andar de um prédio restaurado recentemente, mas ela ainda nem conseguira pensar sobre isso... Não estava certo o que fazia, nem a Pedro, nem a Filipe mas também não estava certo para si. A vida dera-lhe o novo privilégio de ter engravidado pela segunda vez, mas numa altura crítica. O filho merecia mais e ela sabia o que o filho deveria ter ou não... Lamentava tudo o que tinha de viver, mas tinha de decidir toda a vida dele até aos 4 meses, altura em que acreditava que o filho começava a ouvir e a perceber o que a rodeava. Portanto faltava-lhe 2 meses e meio, o que poderia parecer demasiado mas era pouco para tudo o que ainda faltava fazer. Pôs a chave na porta e abriu-a, passou o corredor até chegar à sala onde ouviu a televisão ligada, entrou e deparou-se com Filipe sentado sobre o sofá... Não poderia deixar simplesmente a carta e ir-se embora, tinha de falar com ele. Mas será que a vida não lhe poderia facilitar a tarefa?

-Olá meu amor! - Levantou-se e deu-lhe um beijo rápido. - O que fazes aqui? Estava só à tua espera perto da passagem de ano, antes de ires para Manchester!
-Precisamos de falar. - Disse com o tom oposto do dele. Filipe estava entusiasmado, feliz e ansioso, enquanto o tom de Sofia era calmo, sereno e até triste.
-Estás a deixar-me preocupado.
-É um assunto sério.
Sofia sentou-se no sofá e ele sentou-se ao lado dela.
-Não me venhas dizer que estás grávida. - Disse em tom de brincadeira e de repente as expressões dela mudaram e ele rapidamente percebeu o que se tratava. - Eu nem quero acreditar!! - Rapidamente levantou-se e ficou mais que entusiasmado, mas ela sabia que aquela felicidade iria durar pouco. - Ai!! - Estava aos pulos, e Sofia não teve coragem de o interromper, só quando ele se sentou ao lado dela e pousou a mão sobre a barriga é que ela ganhou coragem para lhe dizer.

-Estou grávida de um mês e meio. - A expressão de Filipe rapidamente se mudou tornando-se igual à dela... - Eu não queria... Eu juro que não era nada disto que queria.
Filipe levou as mãos até à sua face e escondeu-se, queria arranjar um buraco e desaparecer, queria não ver o mundo, queria sair dele, queria que tudo fosse um sonho mas ele sabia bem que não poderia fazê-lo, as lágrimas começaram a apoderar-se de si.
-Como foste capaz? - Perguntou enquanto chorava mas em silêncio.
-Eu nunca o quis...
-Porquê? Diz-me porquê, por favor. - Levantou-se do sofá e não conseguia controlar as lágrimas que lhe caiam pela face, a dor dominava-o e ela sentia um aperto no peito, como já tinha sentido antes mas de uma forma diferente... Era a dor de se sentir culpada, os remorsos.
-Eu não sabia... Eu só soube em Espinho.
-Não consigo lidar com isto, desculpa. - Dito isto saiu de casa a uma velocidade que nem lhe dera tempo de reagir, de pelo menos ir atrás dele e mesmo em choque deixou-se cair no sofá, onde pegou no telemóvel e telefonou ao irmão.
-Diogo?
-Estou a subir! - Passado breves minutos, ele chega a casa dela e aproxima-se do sofá onde ela está, mas em choque e sem reagir ao que se passara. - Sofia? - Correu até junto dela e abraçou-a. - Estás bem? - Estranhava a falta de reação dela, que nem ao seu abraço reagira, e nem uma lágrima vertia ao que acabara de se passar com Filipe e tinha sido grave, deveras grave para com os sentimentos de ambos.

-Eu sou um monstro. - A rapariga não se mexia, limitava-se a falar, a sua expressão corporal nada dizia e os seus olhos só demonstravam um enorme vazio. - Como fui capaz?
-Sofia, simplesmente aconteceu, não faz de ti um monstro.
-Eu podia ter usado preservativo.
-E se pudesses voltar atrás usavas-o, ou não te deixavas envolver com o Pedro? Ou escolhias o Filipe para pai do teu filho?
-Eu teria feito tudo de outra forma.
-Tu amas o Pedro e ele a ti, este filho foi mais uma oportunidade de vos juntar novamente.
-E de humilhar e magoar o Filipe. Já viste que daqui a uns meses vou andar a desfilar com uma grande barriga e as pessoas vão falar com ele e dar os parabéns e perguntar porque nos separamos, afinal somos pais e ele vai ter de se humilhar e dizer que o pai da criança não é ele.
-Tu nunca te importaste com a opinião dos outros porque o farias agora?
-Porque adoro o Filipe, apesar de não o amar, como ele merecia e não queria que ele sofresse.
-E tu estás grávida e a sofrer por ele estar a sofrer, por isso tu também estás como que a pagar pelo que fizeste, por algo que os dois sabiam que ia acontecer, o maldito desse sofrimento sem fim!
-E o Pedro? Como fica?

-Como pai que é! - Disse ele sorrindo. - Vais ver que ele vai acabar por perceber, o tempo de gestação bate certo com o tempo em que se envolveram e além disso ele vai acabar por sentir de igual forma o amor de pai.
-E o bebé da Matilde?
-Eu jurei que não contava a ninguém, mas vou fazê-lo mas vais ter que me prometer que não vai sair daqui a nossa conversa e nada vai mudar na tua forma de falares e seres com a Matilde.
-Diogo, o que se passou? - Perguntou ansiosa.
-Promete-me. - Insistiu.
-Pensava que não era preciso isso entre nós, apenas amor, não é verdade?
-Quando é comigo, podes estar certa, mas o segredo não é meu e quem me contou não foi nenhum das pessoas da história, mas um amigo.
-O que é que o Raphael te disse?!
-Como sabias?
-Conta-me! Nunca se deixa uma grávida à espera! - Diogo sorriu e pensou mais uma vez se o deveria fazer ou não, mas ela merecia saber e ele não conseguia mais segurar aquele segredo só para si.

-A Matilde nunca esteve realmente grávida. - Ela engoliu em seco e ele fez uma pausa para se recompor e preparar para contar tudo. - Ela só o queria segurar e pensou que mentir por causa de um filho seria a melhor forma de não o perder... Para ti.
-Porquê? Porque é que ela fez isto ao Pedro? - Começou a chorar e o irmão abraçou-a.
-Ela lutou pelo que queria mas de uma forma suja e usando o truque mais antigo do mundo, o da barriga.
-Eu devia dizer-lhe que lamento imenso, eu devia dar-lhe apoio, ele precisa de mim.
-Sofia, não vais fazer isso, afinal tu supostamente nem sabes de nada, lembras-te?
-Diogo, a Matilde está numa cama de hospital, o Filipe sabe Deus onde está e e como estará, eu estou grávida e não consigo não me sentir culpada de tudo.
-Sofia, vais passar os próximos dois dias na cama dedicada ao que tu tanto amas fazer, vais escrever e descansar, depois vais divertir-te para Manchester, fazes-me esse favor?

-Vou tentar. Mas agora ajudas-me a arrumar tudo para irmos embora? Só de estar aqui dá cabo de mim.
-Claro que sim.
Depois de arrumarem as roupas e mais alguns pertences, foram embora e ela decidiu escrever uma carta... Mas desta vez a Matilde.

Querida Matilde:
Lembro-me bem da primeira vez que te vi: Quando à porta da escola, estavas a beijar o meu amor... O meu Pedro. O homem por quem tanto tinha feito e por quem tinha tanto amor. Vi-te com o homem que teria sempre o meu coração. E acredita que não houve ninguém que mais odiasse naquele momento e durante uns tempos que a ti, Matilde. Queria poder ter quem estava contigo, queria poder dizer-te que o coração dele seria sempre meu e tu... Que tu eras apenas mais uma para curar as feridas profundas que tinha deixado naquele coração tão grande.
Mas a vida pregou-me uma partida e acabaste por seres minha colega de turma e tudo fizeste por mim, para me ajudar, por seres minha amiga e acredita que eu quis contar-te um milhão de vezes que podias tudo fazer mas eu nunca te perdoaria e nunca te deixaria de odiar apenas porque tinhas o homem que eu amava e que eras a culpada pela minha infelicidade... Porque no fundo te invejava. Tu tinhas tudo o que queria. Tu tinhas o meu Pedro! Mas acabei por baixar as minhas defesas quando percebi que tudo era inveja o que sentia, que eras uma rapariga bestial que fazia realmente feliz o meu amor e que apenas querias dar-lhe amor e fazê-lo recuperar da mágoa que eu lhe deixara. E eu queria ter-te dito que a culpada da mágoa do teu amor era eu, acredita que eu tentei um milhão de vezes mas simplesmente não consegui fazê-lo.
Quis deixar-te ser feliz e fazer com que o Pedro fosse também feliz ao teu lado, mas eu simplesmente não consegui. Fui tão egoísta! Eu nunca devia ter aparecido... Estava tudo tão bem antes de aparecer!
A ti te devo também o que vivi com o Filipe, porque foi depois de ver o teu beijo com o meu amor, que quis cortar os pulsos e ele apareceu e impediu-me e acabou tudo por acontecer e desenvolver-se até a um nível que eu pensei que nunca mais viria a sentir. Claro que não o amo, nem nunca o amarei como o fiz com o meu... Com o nosso amor. Mas realmente gostei dele e tentei que tudo desse certo, mas como seguir com a minha vida se o meu coração continuava preso e só a bater por uma outra pessoa que não fosse ele?
Sei que no fim tinhas apenas medo que o Pedro te abandonasse e te magoasse como eu lhe fiz e que querias tê-lo por perto com esta “gravidez”, e acredita que não tenho coragem para te condenar, afinal quem sou para o fazer? E acredita que quando acordares, espero que leias esta carta e tenhamos uma conversa final. Uma que coloque todas as questões sobre a mesa para podermos seguir a nossa vida, em paz. E quero que saibas também que noutra vida teríamos sido irmãs do mesmo sangue, terias sido a minha melhor amiga e tínhamos partilhado pijamas e muitas aventuras, mas (in)felizmente é esta a vida que estamos a viver e nunca poderíamos ser o que devíamos ser. E quero também dizer-te, como amigas de outra vida, que estou grávida. Grávida de um pai que só nós sabemos amor.

Com saudade,
Ana Sofia Roch(inh)a”

-Diogo, vou à praia.
-Queres boleia? - Diogo estava ciente do frio que se vivia na rua e do “estado” de gravidez que ela vivia mas acima de tudo, conhecia-a e sabia que ela não ficaria bem senão fosse à praia, precisava de respirar a maresia para se acalmar.
-Precisas de boleia?
-Não te importas?
-Claro que não! Mas agasalha-te por favor... Agora não estás sozinha.
-Nunca estive e não é agora que vou estar.
-Sabes que agora tu não és só tu, são dois...
-Eu nunca mais me vou esquecer disso, Diogo. Confia em mim. - Sorriu e Sofia foi até a uma caixa de onde tirou um casaco quente, depois foram até ao carro onde Diogo lhe deu boleia até à praia.
Sofia sentou-se junto ao mar mas longe o suficiente para não se molhar com as ondas, e relembrou-se de bons momentos que havia vivido exatamente ali.

(Memória)
Era um dos primeiros dias de Verão e o calor começava a aparecer e ambos decidiram aproveitá-los num pequeno passeio à beira-mar de mãos dadas.
-Pedro? - Perguntou Sofia depois de vários minutos de silêncio. - Eu queria perguntar-te uma coisa.
-Podes perguntar-me o que quiseres, estou sempre pronto para te ouvir.
-Quando tivermos um filho como gostarias de lhe chamar?
-Estás a tentar dizer-me algo?
-Não... Sabes que nunca conseguiria esconder-te algo mas gostava de saber que nomes gostavas de dar a um filho.
-Se fosse rapaz gostaria que fosse Gabriel, se fosse menina adoraria chamar-lhe Diana. Porque Gabriel foi quem deu a notícia a Maria que estava grávida, e era um anjo. Diana porque foi o nome da princesa do povo e a minha filha tem de ter nome de princesa. Mas depende se gostares dos nomes ou não, ou se preferires outros.
-Por mim está decidido.”
(Fim de Memória)

Sofia colocou a mão na barriga e sorriu.
-Quer sejas rapaz ou rapariga, serás o nosso pequeno anjo ou princesa. - Falou com a barriga.
-Já escolheste o nome do teu filho? - Ouviu aquela voz e reconheceu-a de imediato. Era o destino. Queria dar-lhe mais uma oportunidade de lhe dizer que era ele o pai daquele filho. Era ele que estava ali porque se queria lembrar de tudo novamente. Ele estava ali e ela podia aproveitar para lhe dizer o quanto o amava mas sabia que não podia permitir que isso acontecesse, havia demasiado a proibir que isso acontecesse.
-Se for um menino será Gabriel, se for menina será Diana.
Pedro olhou-a admirado, claramente percebendo que tinha sido ele a escolher os nomes mas noutra circunstância, sem saber.

-Tiveste bom gosto na escolha dos nomes.
-Foste tu que escolheste.
-E porque escolheste para nome do teu filho também?
-Porque quero que o meu filho te conheça e te ame como eu te amo.
-Tenho a certeza que o bebé vai ter muito orgulho nos pais que tem.
-Estou certa que sim. - Colocou a mão sobre a barriga e sorriu.
-Posso? - Pedro perguntou olhando para a barriga e ela acenou com a cabeça e ele pousou a mão sobre a barriga dela. - Vais realizar o teu sonho.
-Sim, mas eu já sou mãe, é o completar do meu sonho. - Pedro sorriu, não conseguia esconder a felicidade por saber que Sofia, a mulher que mais amara em toda a sua vida, realizar o seu maior sonho mas também não conseguia esconder que ela iria realizá-lo com outro homem e isso magoava-o também, era um sentimento bipolar.

-Tenho a certeza que o bebé terá muito orgulho na mãe que és.
-Tudo farei para que sim. - Ambos olharam para o mar e ouviram-no em silêncio. - Pedro...
-Sofia.
-Eu amo-te.
-E eu também te amo.
Voltaram a olhar para o mar que respondia calmamente, e cada vez lhes dizia mais que deviam avançar. Pedro olhou para ela como que perguntando se deveria ou não avançar e ela limitou-se a sorrir e ele beijou-a. De seguida, ela sentou-se entre as pernas dele, mas a olhar para o mar.
-Eu e o Filipe já não estamos juntos.
-Quando a Matilde acordar, vou conversar com ela e colocar um fim a tudo. Ela merece alguém que a ame realmente.
-E tu não a amas?
-Não como te amo a ti. - Ela encostou-se ao peito dele e ele abraçou-a com os seus braços. - Adoro cheirar o teu cabelo molhado com sal e o cheiro típico de mar.
-E nada me faz sentir melhor que estar aqui no teu peito.
-O Filipe vai assumir o filho?
-O meu filho terá sempre um pai, nem que o padrinho também um pai. E tu? Vais assumir o teu filho?
-A Matilde nunca esteve realmente grávida... - Sofia abraçou-o e bem encostada ao ouvido dele falou:
-Como estás a lidar com isso?
-Doí muito. - Respondeu com a voz a tremer. - Ninguém imagina a dor, mas ainda me dói mais não ter uma justificação de porque é que ela fez isto.
-Ela tinha medo de te perder... Para mim. Já pensaste nisso?

-O meu coração sempre será teu e assim acabou por me perder ainda mais.
-Ela alguma vez te teve realmente?
-Não, pelo menos nunca como tu me tiveste.
-E será que alguma vez voltaremos a estar juntos?
-Quando tu me contares toda a verdade.
-Tu mereces sabe-la.
-E porque não me contas?
-Porque este não é o nosso momento. É o momento deste bebé, é o momento de tu lidares com a Matilde.
-Sofia... Eu preciso de saber. - A rapariga sabia que lhe devia contar o que a fazia ter-se afastado durante quase um ano, do bebé Júnior, que lhe devia dizer também que o bebé que levava na barriga era seu, mas não era o momento adequado e ele merecia saber de outra forma.
-Eu nunca amei o Filipe e a relação começou para te fazer ciúmes, para te provocar, mas os sentimentos começaram a mudar e ele ama-me, mas eu nunca o amei, e sim houve uma altura em que eu pensei mesmo ser feliz ao lado dele mas nunca me senti realmente feliz quanto fui feliz ao teu lado.
-Eu nunca quis usar a Matilde para te esquecer, para te ultrapassar, acredita que nunca foi minhas intenção. Eu pensei realmente gostar dela e estava disposto a dar-lhe uma oportunidade de sermos felizes, de estarmos juntos mas não podia estar mais enganado, eu só consigo ser feliz contigo.
-Então beija-me outra vez e deixa-me fazer-te feliz por mais uns minutos.
-E depois?
-O futuro a Deus diz respeito.
Dito isto, beijaram-se mais uma vez como tantas vezes tinha acontecido naquele dia e durante toda aquela vida.

Como será depois do beijo?
Será que Sofia vai-lhe contar a verdadeira história? E que ele é o pai do bebé?

domingo, 5 de junho de 2016

Capítulo 25: “E porque não lhe escreves uma carta?”


(Pedro)
Depois da notícia que ouvira pela boca da sua amada, sentiu o destino pregar-lhe uma partida, pela primeira vez sentiu que o destino nunca mais os iria juntar e ele estava certo, até disso até então. Quando ouvira a notícia, fez-se de forte, fingiu que havia digerido bem a notícia e que se limitava a estar feliz por ela, afinal o amor era assim, mas na verdade, ele sentia-se desfeito, partido, sentia que tudo tinha perdido o sentido e o rumo da sua vida era mais uma vez incerto... Sofia iria realizar o seu sonho sim, mas iria realizá-lo ao lado de Filipe, e ele iria realizá-lo também... Mas junto a Matilde. E ele não sabia digerir o misto de emoções que a vida dele se tornara... Mais uma vez.
Depois de deixar Sofia em sua casa, com o irmão, foi até ao carro e pousou a cabeça sobre o volante e os braços a protegê-lo e chorou, chorou e chorou. A dor parecia cada vez mais forte e intensa, intensificava-se a cada segundo mais e mais, e parecia não desaparecer por nada, e ele sabia que tinha de ser forte, como Sofia o era, mas como poderia sê-lo? No fundo sentia terríveis ciúmes de Filipe. Ele poderia ter conquistado inúmeras mulheres, como já o havia feito anteriormente, mas não... Filipe tinha-se apaixonado e tinha feito apaixonar-se Sofia por ele e Pedro não sabia lidar com isso. Ele dera-lhe um filho e ela não iria abortar, então porque razão o teria feito com Júnior? Por muitas explicações que tentasse tirar para o ajudar a compreender e a lidar com os sentimentos e com a postura e a atitude que devia tomar, simplesmente não conseguia. Mas estava na altura de ser forte, acima de tudo, a sua mulher, a sua companheira, amiga e namorada, Matilde precisava de si, a mãe do seu filho e o seu filho precisavam de todo o seu lado forte, do seu lado maturo, o seu lado de bom companheiro e pai. Limpou as lágrimas e endireitou a roupa, respirou fundo meia dúzia de vezes e seguiu caminho, até casa... Antes de mais precisava de descansar. Pouco ou nada tinha dormido e precisava de fazê-lo e recuperar energias para enfrentar uma das maiores dificuldades da sua vida.

(Algumas horas mais tarde)
Pedro adormeceu sossegadamente na sua cama, e parecia nada o acordar, a sua cabeça descansara completamente enquanto dormira naquelas horas e nem Raphael, recém-chegado das mini-férias na sua terra o acordou e o rapaz apesar de estranhar a sua presença, mais cedo do que esperava, não o acordou e deixou-o descansar, nada o acordara, nem mesmo o telemóvel que tocava repetidamente vezes e vezes sem conta.

-Pedro acorda! - Gritou Raphael a Pedro, mas nem assim o rapaz despertou. - Pedro, é importante por favor!
Raphael assustado até levou as mãos ao pescoço de Pedro para ver se o rapaz respirava mas confirmava-se, o que ainda o preocupara mais, por isso decidiu ir até à cozinha encher uma panela de água fria e deixar cair para cima de Pedro, era impossível não acordar assim.
-Mas tu estás parvo? - Gritou Pedro a Raphael assim que despertou. - Tu sabes a temperatura que está lá fora para me mandares com uma coisa dessas?
-Pedro é mesmo importante. - Sentou-se sobre a cama. - Acredita que noutra circunstância não o faria mas tu não acordavas por nada e precisam de ti mais do que nunca.
-O que se passou? Está tudo bem?
-O teu telemóvel estava farto de tocar e tu não acordavas por nada, e eu decidi atender, eram os pais da Matilde. Ela teve um acidente de carro e está mal...
-E o meu filho?
-Não sei... Precisas de ir para lá rápido.
Pedro nem mudou de camisola, agarrou nas chaves do carro, de casa, na carteira e no telemóvel e saiu.

(Sofia)
Depois do que se havia passado entre si e o “irmão” não tivera coragem sequer de fechar os olhos e tentar descansar, apesar de se sentir cansada. Não era o arrependimento que a corroía, era os pensamentos de quem tinha estragado tudo, mais uma vez. Olhava para o teto de olhos bem abertos e pensava como iria lidar com Diogo depois do que se sucedera, como ficaria a relação dele com a Rita e a sua com Filipe, afinal ambos haviam traído os namorados e ela ainda tinha de lhe dizer que estava grávida... Mas não era seu filho. Diogo também não pregara olho, olhava também para o teto e pensava no que haviam feito, tinha sido bom, sem dúvida alguma, mas como ficaria tudo depois? O silêncio respondia a todas as questões, ou melhor, não respondia, mas era mais fácil calarem-se em vez de falarem sobre o que sucedera.
Sofia levantou-se da cama e vestiu a roupa, saiu do quarto e foi preparar alguma coisa para comer, talvez a comida a ajudasse a esclarecer as ideias, mas Diogo vestiu-se também e foi atrás da rapariga para a cozinha.

-Não te magoei, pois não?
-Porque me haverias de magoar?
-Talvez fui bruto e tenho medo por causa do bebé.

Sofia riu-se.

-O bebé não sentiu nada, está descansado. Mas como sabes?
-Não precisas de me dizer, o teu corpo e as tuas reações disseram-no.

Depois de lhe responder, ambos mergulharam num silêncio absoluto e ensurdecedor mais uma vez, de seguida, ela preparou o almoço e depois de pronto foi tomar banho, onde ligou a música e Diogo, que esperava por ela para almoçar, ficou preocupado com a demora dela e acabou por se levantar da mesa e ir até à casa de banho, onde viu a irmã sentada de pernas dobradas e os braços a abraçá-los.

-Sofia? - Diogo irrompeu os seus pensamentos, mas nem assim ela respondeu. - Nós pudemos simplesmente esquecer o que se passou, é o mais fácil, para todos.
A rapariga levantou a cabeça e ele viu-a de lágrimas nos olhos.
-Até pudemos fingir que não se passou nada, e fazermos um pacto de segredo, e escondermos isto dos nossos namorados, mas eu simplesmente não posso, nem consigo esquecer, entendes? O Filipe gosta imenso de mim e fez tanto por nós, e especialmente por mim, e eu traí-o, e estou grávida de um filho que não é dele... Como é que lhe vou dizer isso?
-Primeiro, acho que este banho te fez mal, e que te deverias limpar e vestir, depois vais para a mesa e depois de almoçarmos vais falar tudo comigo, pode ser?
Sofia abanou positivamente a cabeça e decidiu seguir o conselho do irmão. Depois de se vestir e de almoçarem, decidiu falar.
-Eu vou-te contar tudo, desde o início. - Respirou fundo e focou-se apenas no facto de estar ali, a desabafar com o seu irmão, de sempre. - Ontem quando soube que não era realmente tua irmã. - Engoliu em seco e prometeu a si mesma que não iria chorar enquanto estivesse a falar. - Eu fui para a praia... Para a minha praia. E precisava de apoio, precisava de alguém e o mar acabou por me incentivar a ligar o Pedro. Depois viemos para Lisboa, e ele fez-me comer, aqueceu-me e depois deitou-me na cama... Mas eu pedi-lhe para ele se deitar ao pé de mim e eu quis mais e ele disse que não. Ele tem e quer a Matilde, e o filho deles, não me quer a mim... E eu queria dizer-lhe que ele está à espera de um outro filho... Meu. Mas ele percebeu que era do Filipe e eu simplesmente não lhe consegui dizer a verdade. E agora nem sequer tenho pai para o meu filho, o verdadeiro não sabe que é pai dele, e o namorado da mãe, não é verdadeiramente o pai, e o padrinho e tio, bem... Foi para a cama com a mãe.
-E porque não lhe escreves uma carta?
Sofia sorriu, claramente não haveria ideia melhor para fazer, quando sentia dificuldade em falar sobre algum assunto, escrevia, porque até era bem mais fácil fazê-lo que dizê-lo.
-Parece-me uma excelente ideia.
A rapariga foi buscar um papel e uma caneta e decidiu escrever uma carta a contar a verdade... Mas não toda.

Querido Filipe,
Escrevo-te para dizer o quanto gosto de ti, te agradeço e acima de tudo, te peço desculpa.
Gosto realmente de ti, da tua forma de viveres cada dia, da tua força para lutares quando realmente amas, a tua forma de perdoar, e essa é, sem dúvida alguma, a que mais admiro em ti...
É incrível como tu consegues perdoar as pessoas mesmo sabendo que elas não estão arrependidas por te magoarem, nem mesmo quando simplesmente não te pedem desculpa por terem-no feito mas acabas por perdoar porque tens um coração demasiado puro para guardares qualquer tipo de rancor no seu interior. Quando tu gostas, tu realmente fá-lo de uma forma intensa e mesmo que tenhas de lutar contra a lógica e o óbvio, tu fá-lo, sem hesitar, porque sentes que realmente vale a pena, que é merecido esse sentimento, mas também sabes separar os teus sentimentos quando se fala da felicidade dos que amas... E tu amas-me. Não o consegues negar a ti mesmo, mas também não o consegues dizer em voz alta, porque sabes o que isso pode vir a fazer nas nossas vidas, na tua vida, quando tu assumires ao mundo que não poderias estar mais apaixonado por mim. E eu sinceramente admiro a tua coragem, a tua força e a tua amizade por mim, porque pões o meu bem-estar em frente ao teu, porque quando choro à noite e quando sabes que estou a sofrer por algo que se passou com o Pedro, ou apenas por lembranças, e tu por uns minutos esqueces os teus sentimentos e dás-me apoio, mais que uma prova de amizade, é uma prova de amor. E eu gostava de te poder agradecer por tudo o que tens feito por mim, mas uma vida não chegaria para tudo, porque embora, o mereças, eu simplesmente não consigo retribuir todo esse amor por ti. Talvez se tivesse aparecido noutra altura da minha vida, noutras circunstâncias, não te estaria esta carta, mas sim uma completamente diferente, e embora não tenhas culpa, eu tenho-a, mas não posso negar aquilo que sinto e enganar-nos a todos. Desculpa, mas simplesmente não o posso fazer.
És um rapaz que além de lindíssimo, tens um enorme potencial futebolístico, e se o Benfica se atrever a desperdiçar, por qualquer motivo, eu mudo radicalmente a minha forma de ver futebol e vou ter umas lições com o livro do Mourinho ou assim...
Mas falando de assuntos sérios, eu tenho de te pedir desculpa. Desculpa por não te amar da mesma forma e por não me ter dedicado à nossa relação, ao nosso namoro, da mesma forma que tu... E é também por isso que te escrevo. Porque eu fui a culpada por te magoar tanto, por nos começarmos a envolver e por ter deixado as coisas chegarem tão longe.
Eu nunca te deveria ter provocado antes de nos envolvermos pela primeira vez, não devia ter-se usado para uns bons momentos de prazer, não deveria ter aceite o teu pedido de namoro, embora fosse, só no início, para fazer ciúmes, poderia ter feito tudo de uma forma tão diferente e acredita que se pudesse, voltava atrás só para não te magoar... E para te enganar.
Não, não te traí. Cumpri a minha promessa. Mas eu estou grávida... De quatro semanas. E eu sei, ambos sabemos que este filho não é teu. E eu nunca te pediria para o assumires e para cuidares como se fosse, mas também não te posso enganar de nenhuma forma, e fingir que o era. E é por esses motivos que te escrevo, sabes o que isto significa... Que não podemos simplesmente estar juntos e fingir que nada se passa, que este bebé não é nada, mas também não pudemos fingir que não se passou nada. Filipe, eu só sei que o melhor para ti, não sou eu e como cobarde que sou, achei por bem dizer-to numa carta, para poderes seguir a tua vida, e assim recuperares de todo o sofrimento que causei à tua vida.
Desculpa,
De uma pessoa que nunca te deveria ter entrado na tua vida,
Sofia Roch(inh)a”

Depois de terminar de escrever a carta limpou as lágrimas, dobrou-a e tomou uma decisão, iria dá-la a Filipe e se ele quisesse perguntar-lhe algo, iria responder-lhe. Embora soubesse que ele merecia muito mais que uma carta, ela simplesmente não conseguia fazê-lo, por isso seria melhor escrevê-lo. Pediu a Diogo para a levar até casa do Filipe, e embora se tentasse mentalizar que tinha de ter calma para o que iria viver e precisava de fazê-lo para o pequeno “feijãozinho” que tinha na barriga, mas ela sabia que não podia, nem conseguia mudar a sua vida por causa daquele bebé, pelo menos os seus sentimentos.

(Pedro)
(Passado uns dias)
O rapaz não conseguia recuperar da dor do incerto, da ansiedade de esperar por uma notícia, que poderia cair para um lado positivo ou para um lado negativo, da dor de ver quem gostava mas tanto desvalorizara, mal. Matilde estava no hospital, presa a uma cama e ele sentia-se culpado por tudo o que acontecera e que tudo o que vivera era inteiramente sua culpa e merecia estar a sofrer por isso.
Desde que lhe deram a notícia que ela estava no hospital, na cadeira junto à cama, de onde não sai-a e pernoitava há já várias noites, e onde dormia apenas duas ou três horas, porque tinha medo de acordar já com uma notícia. O desespero começava a domá-lo, e ele não sabia já como pedir uma resposta... Rezara a Jesus, e até ao filho por uma resposta, por uma cura... Por algo. Acordara às 4 horas da manhã daquele dia e decidiu escrever uma carta:

Querida Matilde,
Só damos valor quando perdemos, e eu embora não te tenha perdido, só agora te dei valor. Tarde mais, para te dizer o quanto estou arrependido por todo o sofrimento que te causei e o quão merecias que me tivesse limitado a focar-me no que era o melhor para ti, desde o começo.
Devia ter-te sido completamente sincero desde o início, ter-te dito que não era o melhor para ti, que tinha demasiados problemas na minha vida, e que nenhum estava realmente resolvido para eu conseguir prosseguir com a minha vida. Devia ter-te dito que o que tu sentes é completamente diferente daquilo que eu sinto, e por isso e todos os milhões de motivos que ambos sabemos, nada iria resultar entre nós.
Quando tivemos de lidar com as questões do meu passado, de volta, tu tiveste coragem para os enfrentares, como mulher apaixonada que és, enquanto eu, preferi ignorá-los mas os sentimentos acabaram por vir ao de cima. Eu fingi que o meu passado não me afetava e tu embora soubesses que mentia, davas-me a mão e beijavas-me os lábios e prometias que íamos superar tudo juntos, porque o amor que nos unia era mais forte que isto... Mas tu sabias que era o teu amor que superaria, nunca o meu, porque a tua chama de amor era muito maior que a chama que eu tinha ateado para a fogueira do nosso amor, porque tinha medo de me queimar, medo de me magoar... Tive medo que o passado me consumisse e acabou por ser esse medo irracional que me consumiu.
Fui egoísta e egocêntrico ao pensar sequer que esta relação iria mudar algo no que sentia por ti, e pelo meu passado que tem um nome...
Fui egoísta ao pensar que algum dia conseguiria retribuir tudo o que me davas, que conseguia dar-te todo o meu coração, como tu me havia entregue o teu. Devia ter pensado que simplesmente não era o melhor para ti e por isso nunca iria ser aquilo que mereces. Enquanto que eu para ti era tudo, na minha cabeça tu eras apenas o recomeço... De algo que não tinha acabado.
Eu tentei ser feliz contigo, juro que tentei realmente amar-te mas a minha cabeça sabia que não podia... Mas tentava enganar todos. E tu sabia-lo, sabias que te mentia, mas beijavas-me, e davas-me os teus braços e o mundo por mim, se te pedisse, mesmo sabendo que não tinha sido sincero contigo. É impressionante o amor que me dedicaste e a esta relação, e o esforço e dedicação, que dedicaste a uma relação que sabias desde o começo que estava condenado... Mas quiseste ser mais forte que isso. E eu, injustamente, quis acreditar também que bastava o teu amor para superar tudo, e por isso menti-te, e só hoje, passado seis meses consigo ser sincero contigo, e é através de uma carta depois de te ver deitada numa cama de hospital. E hoje, ao olhar-me ao espelho e a pensar em tudo o que te fiz passar e trouxe à tua vida, que deparo-me que me tornei a pessoa que mais detesto e a única pessoa que tem culpa de toda a mágoa e dura vida que tem sido os teus últimos seis meses.
E hoje, consigo perceber o que fizeste... Tu querias uma prova que eu sentia algo por ti, querias sentir que com uma gravidez eu estaria sempre ao teu lado. Tu inventaste uma gravidez, mas eu simplesmente entendo-te, porque tu querias uma réstia de amor enquanto tu me davas todo o que tinhas em ti. E embora me magoe, eu fico a teu lado e vou ajudar-te a superar tudo... Mas como amigo porque sabes que mereces um amor melhor que o meu.
De um passado irreversível,
Pedro Rebocho.”

Depois de escrever a carta, deixou-a sobre a almofada e decidiu pela primeira vez afastar-se de Matilde, daquela cama e daquele hospital e ir descansar para casa, e para a sua cama e, no dia seguinte, iria voltar aos treinos, embora tivesse ordem do treinador de dispensa até entender que era estava em plenas condições de voltar, ele iria voltar, tinha de continuar a sua vida.

Quando irá acordar Matilde?

Será que Sofia entregou a carta a Filipe? E quem será o pai do bebé de Sofia?

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Capítulo 24: "Sofia, talvez um dia mas hoje não"


(Pedro)
Parecia que o mundo iria ruir sobre os seus pés, que tudo iria descambar sobre si, a vida dificultara-lhe os planos, os sonhos, roubava-lhe quem mais amava e quem mais queria, a dor era tamanha mas a felicidade também deveria sentir-se, nem que fosse pela rapariga, afinal Sofia ia realizar o seu maior sonho, a vida dera-lhe uma segunda oportunidade de ser mãe e ele devia ficar feliz por ela, mas ele não era o pai daquela criança… Estava certo disso. Ela iria ser mãe e Filipe o pai daquela criança, assim como ele seria pai… De um filho de Matilde. Não a iria abandonar, iria viver uma vida inteira ao lado dela apenas para fazer do filho o ser mais amado do mundo e Sofia iria ficar sempre com Filipe, afinal ele era a única pessoa que a conseguira fazer recuperar a felicidade e mais que isso, era ele o pai do seu filho. Sentou-se no sofá e começou a chorar, sentia uma mão apertar o seu coração e uma aflição para respirar, a vida não podia ser tão madrasta, o destino não poderia ser tão duro para eles. Respirou fundo, voltou a respirar e mais uma vez tentou acalmar-se mas parecia impossível.

-Pedro, eu quero que saibas… - Foram interrompidos pela fechadura a abrir que os assustou, mas mesmo assim a reacção era a mesma, Pedro só chorava e Sofia sentada ao seu lado, sem saber o que fazer, queria falar mas não conseguia.
-O que é que fazes aqui?!
Ficaram ambos assustados com aquela voz... Não, seria demasiada coincidência ela aparecer ali, naquele momento e vê-los.

-Eu não acredito Pedro! Juro que não acredito! - Disse revoltada. -No dia de Natal, Pedro! No próprio dia de Natal tu traiste-me! Traiste-nos, a mim e ao teu filho! Não tens vergonha?!
-Não é nada disso que estás a pensar... - Disse Sofia, tentando defender o seu amado.
-Tu não te metas! A culpa disto é toda tua! Antes de apareceres estava tudo bem! És o meu pior pesadelo, o pior pesadelo de toda a gente, não fazes falta nenhuma, só vens fazer estragos ainda não percebeste?!
-Estás a ser injusta Matilde!
-E tu que não a defendesses, Pedro!
-A Sofia é adotada, simplesmente estou a dar-lhe apoio!
-A menina não podia chorar no ombro do irmãozinho ou do namorado? Tinha de vir chorar para os ombros do meu namorado?

Pedro sentia que tinha de optar por uma das raparigas, ou a mãe do seu filho, ou a mulher que mais amava... Que estava grávida de um filho que não era seu.

-Matilde, ouve-me por favor. - Pediu Pedro tentando acalmar a situação. - Nenhum dos dois sabe o que é ser adotado e o que a Sofia deve estar a passar e, como reagiamos se fossemos nós no lugar dela, entendes isso? Então não pudemos julgá-la, nem apontar o dedo. Além do mais, não tens razão para nada daquilo que estás a dizer, é contigo que estou não é verdade? És tu a mãe do meu filho! - Fez-lhe um pequeno carinho na face. - Já vinha a chegar de Évora quando encontrei a Sofia aqui e dei-lhe apoio, agora vou levá-la para Évora para aproveitar uns dias e depois vai para Manchester passar a passagem de ano, mais que nunca,a Sofia precisa de espaço, tempo e compreensão! Tu tens um coração enorme e no fundo gostas dela mas estás ferida, mas esquece isso por uns tempos e foca-te no bem-estar de uma pessoa a quem já chamaste amiga. - Pedro acabou por "falsificar" uma parte do que disse, mas não valeria a pena enervar e chatear uma grávida por algo que achava desnecessário. - E antes que perguntes, sim, vai para Évora para junto da minha família que a conhece bem e de quem foi muito próxima para tentar recuperar que eu volto para os treinos amanhã e não posso apoiar-te a ti e a ela em simultâneo e com treinos.
-Já falaste com o Filipe e com o Diogo? Eles devem estar preocupados e até ter uma resposta...
-Não... Não quero que falem com o Diogo. Por favor.
-Está descansada. - Respondeu Pedro. - Não te importas de ir buscar umas roupas para a Sofia levar para Évora, enquanto eu fico aqui a tratar da Sofia.
-Estou a ir. Até já e muita força Sofia, és muito forte, mais do que pensas, acredita em mim. - Deu-lhe um beijo na testa e saiu, deixando o ex-casalinho sozinho.
-Não lhe contaste da minha gravidez...
-Ela não precisa de saber, Sofia, não tem nada haver com isso, além do mais é uma opção tua contares a mais alguém que não ao pai da criança. - Sofia calou-se, se ao menos ele soubesse o que dizia. - Queres ir para Évora ou preferes ficar com o Filipe?
-Sinceramente não sei... Eu queroo ir, quero mudar de ambiente, tirar uns dias longe de tudo e todos, pensar e repensar, mas como direi ao Filipe que estou longe... Ao pé da tua família?
-Tenho a certeza que ele vai compreender que vás para longe, que te distraias, além disso, também vais ter com o Rony a Manchester, e vai-te fazer bem.

-Devia falar com ele.
-Convida-o para vir cá almoçar, tenho a certeza que ele vai aceitar.
-Ele vai ficar magoado se perceber que eu liguei-te a ti quando precisei e não a ele.
-Ele não precisa de saber, diz-lhe que fui eu que te liguei, sei que não se deve mentir mas foi é a única forma de não os magoarmos.
-Mas também não é mentira dizer que já não nos amamos?
-Sofia, sabes tão bem quanto eu que só isso não basta.
-Basta sim. Basta juntarmo-nos os dois e deitarmos tudo para trás das costas e focarmo-nos no que apenas nós sentimos e na vontade de estarmos juntos, de nos lembrarmos dos planos que tínhamos e os sonhos em comum.
-Sofia, simplesmente não pudemos, agora não, neste momento, nem num futuro próximo pudemos, as nossas vidas seguem caminhos em separados, ainda não percebeste que a vida está a dar-nos uma lição? Que nos está a tentar ensinar algo e esse algo é que não devemos estar juntos. Tu estás com o Filipe, e estás grávida de um filho dele e eu estou com a Matilde e estamos à espera de um filho. - Para Sofia tudo se tornou claro quanto água, a questão não eram eles, mas sim o melhor para os filhos que mereciam ter os pais juntos e não iriam pagar por um erro deles e ela depois do que ouvira não tivera coragem para lhe contar a verdade.

-Pedro... - Sofia queria contar-lhe mas sentia a voz ficar presa nas cordas vocais e uma nó atravessar-lhe a garganta.
-Sofia, talvez um dia mas hoje não.
A rapariga engoliu em seco e colocou a mão sobre a sua barriga, amava mais o(s) seu(s) filhos que qualquer outra pessoa no mundo e era neles que se inspirava e arranjava força.

-Está descansado que eu ligo ao Filipe e fico com ele para me dar forças, não precisas de me levar para lado nenhum.
-Sofia, sabes que talvez isso não seja o melhor...
-Eu sei o que é melhor para mim e para o meu filho. - Respondeu rudemente e Pedro calou-se. - Leva-me até minha casa apenas e depois podes ir para os braços da Matilde, obrigada mas já estou bem.

As hormonas deixam uma mulher com pensamentos esquisitos, desculpou-se interiormente Pedro e ia fazer-lhe a vontade, afinal nunca se contraria uma grávida não é verdade?
O rapaz fez-lhe a vontade e levou-a até sua casa... E de Filipe. Estacionou o carro e Sofia já ia despedir-se dele.

-Nem penses, vou levar-te até mesmo tua casa e ter a certeza que tu ficas bem... E o bebé.

Sofia queria refilar com ele mas acabou por aceitar e deixar-se ir acompanhada até chegar a casa e enquanto iam para a cozinha acabaram por reparar que não estavam sozinhos. Estava um rapaz deitado sobre o sofá com uma pequena manta a cobrir-lhe o corpo e uma perna dentro da manta e outra fora e com o corpo todo desajeitado no sofá, tinha passado mal a noite, com certeza, e tinha adormecido com roupa de rua, nada confortável para uma noite... Que pena que Sofia sentira de Diogo naquele momento mas fora apenas durante uns segundos, depois decidiu despertá-lo da pior forma possível.

-Podes pegar nas tuas coisas e sair daqui para fora, meu caro. - Tirou a manta do corpo dele e fê-lo cair no chão. Pedro não aguentou e soltou uma gargalhada enquanto Sofia riu-se mas apenas durante um segundo, depois retornou à cara séria e antipática de outrora.
-Não sejas tão agressiva com o teu irmão, Sofia! - Advertiu Pedro.
-Eu não tenho família!
-Tens sim! - Respondeu pela primeira vez Diogo. - Tens família e sempre terás! Não somos família biológica mas somos de coração, não podes limitar-te a esquecer-te disso, Sofia! Foram quase 18 anos!
-Sofia... - Pedro tentou chamar-lhe a atenção para se acalmar por causa do bebé que acarretava no ventre.
-Não me venhas com calmas, nem meio-calmas, desapareçam-me os dois da vista, por amor de uma santa!

Pedro acabou por acarretar o pedido dela e sair de casa, mas apenas porque sabia que os irmãos falassem.

-Porque razão o Pedro te pediu para ter calma? O que se passou Ana Sofia?
-Enfia a Ana num sítio que eu cá sei e não sei se percebeste mas mandei-te desaparecer da minha vista!
-Escuta-me por favor. - Pediu mas Sofia não acatou a ideia e deslocou-se até à porta de saída de casa e abriu-a.
-Sais a bem ou queres que te empurre?
-Não vou sair daqui nem que a vaca tussa, Sofia! Para de ser casmurra!

A rapariga fechou a porta e foi até à sala, Diogo acompanhou-a e ambos sentaram-se no sofá e depois de alguns minutos em silêncio, ela rompeu o silêncio.

-Estou grávida... De quatro semanas. - As feições de Diogo modificaram-se por completo a ouvir o tempo de gestação da irmã.
-Isso quer dizer...?
-Sim. - Baixou a cabeça. - Mas ele não sabe... Deste pequeno pormenor.
-Não lhe vais dizer?
-Não. - Respondeu desanimada. - Só tu e o Pedro é que sabem. O Filipe ainda não sabe de nada.
-Mas ele tem o direito de saber.
-Eu sei, vou dizer-lhe hoje.
-Sofia, sei que é uma pergunta estúpida mas... Vais ficar com o bebé?
-Sim. Neste momento é a única certeza que tenho na minha vida.
O irmão abraçou-a e deu-lhe um beijo na testa.
-Admiro-te por isso e por nunca desistires do que queres.
-É o que amo e quero mesmo fazer, sabes? - Começou a chorar. - Diogo, apesar de tudo gostava que este bebé fosse teu afilhado e tivesse uma parte de ti.
-Eu aceito ser padrinho do teu filho mas apenas se disseres ao pai do teu filho que ele o é.
-Diogo... Sabes que é difícil.
-Tanto um como o outro merecem saber.
-Vou fazê-lo, pode é demorar algum tempo.
-Antes do puto nascer, sim?
-Combinado. - Sorriram. - Porque não me disseste... Que não éramos realmente irmãos?
-Eu não sabia... Juro que não sabia. - Respirou fundo. - Eu fui apanhado tão de surpresa quanto tu foste.
-Diogo, eu sinto-me traída... Sinto-me a viver numa mentira. Sinto-me enganada. Sinto-me acima de tudo sozinha. - A rapariga desde que voltara a Lisboa que não sabia o que era sentir-se realmente sozinha e incompreendida no mundo mas agora sentia-o, sentia-o a redobrar, a única pessoa que ela acreditaria na vida, acima de qualquer coisa e qualquer pessoa, afinal não era seu irmão e mais do que qualquer mentira, aquela dor era mais forte.

-Sofia, nunca estarás sozinha. Tu tens este bebé. - Colocou-lhe a mão sobre a barriga. - O Júnior. - Apontou para o céu. - E sempre estarei aqui para ti! - Deu-lhe um beijo na testa e abraçou-a. - Não somos irmãos de sangue e daí? O amor não mudou, a amizade e a confiança também não, somos e seremos sempre irmãos num sítio mais importante. O coração. - Apontou. - E esse bebé vai nascer e vai dar-te ainda mais força e vai juntar-te ao Pedro e aí do meu afilhado que dê noites mal dormidas!
-Sabes que os bebés mesmo que sejam calminhos acordam a meio da noite para comer ou para mudar a fralda, não sabes?
-Sei, mas prefiro pensar que vou ter umas noites descansado antes de levar o puto ao futebol.
-Como vou explicar ao Filipe que o filho não é dele? Ele não merece, não depois de tudo o que fez por mim e pela nossa relação.
-Detesto dizer-te isto, mas tu podias tê-lo evitado, agora estão todos a sofrer.
-Eu sei, eu juro que sei. - Baixou a cabeça. - Mas como poderia adivinhar que depois de tantas vezes com o Filipe, iria engravidar de uma única vez com o Pedro?
-Tenho de te perguntar... - Diogo hesitou e a rapariga rapidamente entendeu.
-Não o faço com o Filipe desde que o fiz com o Pedro... Então desde que começamos a namorar pior ficou... A esse nível íntimo. A chama apagou, parecemos dois velhos. Dois amigos que dormem juntos.
-Vocês pareciam tão ardentes...
-E éramos, antes de começarmos a namorar. Tentei fazer com ele no dia da gala mas ele não quis, tivemos um desentendimento e desde aí que quase existe o medo do contacto, é tão estranho... Eu desejava aquele corpo mas agora que o conheço e assumimos esta relação que as coisas mudaram.
-Já pensaste que talvez tenha sido o teu coração a mandar-te parar que o que estavas a fazer não era o correto?
-Não... Não de todo. - Admitiu. - Eu acho mais que é a nossa relação a amadurecer, nós a encararmos de forma diferente a relação que temos... Deixou de ser apenas o desejo de carne para ser algo mais... Romântico talvez. Eu já tentei mesmo fazê-lo com ele, mas ele simplesmente não quis, disse-me que só o queria para me mentalizar que já esqueci o Pedro, mas como sei que não o esqueci, o estou a usar para fazê-lo.

-O Filipe sempre soube o que tu sentias pelo Pedro.
-E mesmo assim continuou do meu lado e quis namorar comigo, dormir comigo e estar comigo, sabendo que não era por ele que o meu coração batia... E apesar de estar apaixonado por mim desde o início. - Foi apenas a pensar em voz alta que Sofia percebeu os erros que tinha cometido e a influência que estes tinham na vida das pessoas de quem também gostava e a rodeavam. - Eu acreditei mesmo que estava apaixonada pelo Filipe, sabes mano? - Diogo abraçou-a e a rapariga chorou. - Mas como posso organizar a minha vida se ainda estou tão presa ao passado?
-Se tu tentaste superar o Pedro e não conseguiste e se o amas como tu me dizes, deves lutar por ele e não desistir, não é só o filho da Matilde que precisa de um pai, o teu também precisa.
-E vou enganar o Filipe e dizer que o filho é dele quando sei que é do Pedro?
-Não é nada disso que te estou a dizer, Sofia. - Advertiu. - Primeiro que tudo, vais avisar o Filipe que já estás em Lisboa, mas que não vais dormir a vossa casa, eu falo com a Rita, e podes ir para casa dela em Espinho e passas lá uns dias pelo menos até à passagem de ano, onde vais ter com o Rony, durante esse tempo pensas e logo no que é melhor fazer, pode ser?

-Como deixei que a minha vida chegasse a este ponto, mano?
-Sofia, não te culpabilizes por nada disso, lembra-te que o Júnior está a torcer por ti e que só tens este desafio na tua vida porque Deus e o teu filho mais velho sabem que a vais ultrapassar, lembraste?
-Obrigada por apesar de tudo, estares aqui e nunca desistires de mim.
-Nunca o faria, por nada deste mundo. - Abraçou-a e deu-lhe um beijo na testa.
-Se te disser qual é o meu primeiro desejo, não vais acreditar.
-Sofia, és a minha irmãzinha, conheço-te demasiado bem e não me surpreendia nada, sabes disso, certo?
-Sexo. Eu quis sexo. - Disse levantando a cabeça e olhando para o irmão, e aquele olhar era algo diferente... Era muito mais que uma troca de olhares sem intenção de irmãos. O rapaz aproximou a sua face da dela e tinham os lábios a apenas alguns milímetros e ambos olhavam para os lábios um do outro numa tentativa de ganhar coragem para o que iam fazer. - Um momento louco de prazer, selvagem. - Mordeu o lábio.

-Somos irmãos, Sofia...
-É só para experimentarmos.
-Uma vez, sem exceção, sem ninguém mais saber, prometido?

Será que Diogo e Sofia vão realmente fazê-lo?

Será que isso interfira na relação deles? E será que alguém vai perceber do que aconteceu/poderia ter acontecido?